16/06/2012

RODRIGO COSTA FÉLIX | Discurso Direto


"Fados de Amor" (Farol Música, 2012), é este o segundo trabalho de Rodrigo Costa Félix. O Portugal Rebelde este recentemente à conversa com o fadista, que em "Discurso Direto" nos falou de "um disco emotivo, intenso, criativo, intimista e quase autobiográfico."

Portugal Rebelde - Ao escolher o Amor como tema central deste disco, quis também desta forma prestar uma homenagem à Mulher?

Rodrigo Costa Félix - Sim, porque para mim as mulheres são as verdadeiras “embaixadoras” do amor no mundo e conhecem uma dimensão de amor que só agora, após ter sido pai, consigo parcialmente compreender. Acho mesmo que se mais mulheres comandassem os destinos do Mundo, viveríamos com mais harmonia e justiça. Também porque sempre vivi rodeado de grandes mulheres: a minha avó, a minha mãe, a minha irmã, a minha mulher! Por tudo isto lhes quis prestar esta homenagem e ao mesmo tempo falar de Amor, que é um bem escasso e indispensável na nossa vida. E o Fado canta muito o Amor, felizmente.

PR - “Fados de Amor” conta com dois duetos nos temas “Morena” com Kátia Guerreiro e “Fado Contido” com Aline Frazão. Como é que surgiram estes “encontros”?

RCF - Sou amigo da Katia Guerreiro há muitos anos e sempre pensei que um dia iria gravar um dueto com ela, porque sou um admirador confesso da sua voz, da intensidade que empresta aos temas que canta e a enorme emoção que transmite. Quando o Pedro Pinhal me entregou a música que tinha feito para o poema de Guerra Junqueiro imediatamente imaginei-a cantada com a Kátia, que logo acedeu ao convite que lhe fiz. É um tema leve, divertido e que fica no ouvido. O “Fado Contido” surgiu quando os temas já estavam todos escolhidos, pela mão da minha querida amiga Ana Geraldo, autora do poema. Quando me disse que estava já musicado pelo Rogério Charraz e mo mostrou, disse-lhe: este tema vai entrar no disco! É lindo! Depois, em conversa com a Ana e com o Jorge Simão (fotógrafo do CD), pensámos que deveria ser gravado em dueto, com uma voz quente, melodiosa, de preferência africana. Eles então deram-me, felizmente, a conhecer a fantástica Aline Frazão, uma cantora angolana que vai dar muito que falar no meio da World Music, que emprestou um calor e um swing deliciosos ao tema, quer na voz quer na guitarra folk.

PR - “Amigo Aprendiz” foi o tema escolhido para apresentação deste álbum. É esta a canção que melhor define o “espírito” do disco?

RCF - Penso que sim, embora não seja de todo um fado tradicional. É sem dúvida um tema que fala de amor, de um amor altruísta, subjugado quase, de entrega total. É um poema sublime do Fernando Pessoa, que descobri por acaso, e que mal o li imaginei-o musicado pelo meu amigo Tiago Bettencourt, que é para mim um dos melhores músicos portugueses da actualidade. E o Tiago fez um dos temas mais bonitos que já ouvi, uma ligação perfeita entre poesia e música. Não é uma música imediata e fácil ou comercial, foi sem dúvida uma escolha emocional. Mas é extraordinária e penso que as pessoas vão gostar.

PR - No próximo dia 11 de Julho este “Fados de Amor” será apresentado no CCB, em Lisboa. Que “surpresas” estão reservadas para este concerto?

RCF - O espectáculo vai, seguramente, girar à volta destes “Fados de Amor”, mas vou recordar também alguns temas do meu primeiro cd, outros fados clássicos que fazem parte do meu repertório e talvez um ou outro novo tema. Para além disso terei como convidadas especiais a Katia e a Aline que irão cantar comigo os nossos duetos…e talvez uma ou outra surpresa.

PR - Dos 15 Fados, que compõem este disco, há algum que o “toque” em particular?

RCF - Pelos motivos que apontei, sem dúvida o “Amigo Aprendiz”. Mas gosto muito dos duetos, adoro os fantásticos poemas que o Tiago Torres da Silva escreveu para mim e do último tema do CD, “As palavras que eu procuro”, com letra do Rodrigo Serrão e música dos quatro intervenientes no disco: a Marta, o Pedro Pinhal, o Rodrigo e eu, música essa que surgiu num ensaio. Mas naturalmente que as que escrevi e a que compus, “Partida”, dizem-me muito a nível pessoal, por razões óbvias.

PR - Numa frase apenas como caracterizaria este “Fados de Amor”?

RCF - É um disco emotivo, intenso, criativo, intimista e quase autobiográfico: tudo o que canto sou eu na essência e revela a forma como vejo a vida e o Fado.

PR - Com a distinção do Fado a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, sente que há novos públicos que procuram "descobrir" o Fado?

RCF - Sem dúvida, se bem que é um fenómeno que já se sentia antes da distinção. Agora existe maior visibilidade a nível internacional, maior reconhecimento, maior procura, mais mercado mas principalmente ganhou-se uma coisa que há muito sentíamos faltar, especialmente em Portugal: ganhou-se respeito. Temos uma forma de arte que é única no Mundo e valorizada por todo o lado. Ainda bem que a Unesco lhe reconheceu méritos e qualidades especiais para que fosse finalmente respeitada por cá.

1 comentário:

Fado disse...

Vejam o site oficial do Rodrigo Costa Félix. Grande fadista!

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