20/04/2014

YESTERDAY | Discurso Direto


Yesterday é projecto de música a solo de Pedro Augusto. Em 2006, foi vencedor do festival Termómetro Unplugged; participou na compilação Novos Talentos Fnac 2012 e, nesse mesmo ano, venceu também o prémio Jovens Criadores. Embora a música tenha sempre existido, só a partir de 2001 é que o músico começou a gravar duma forma mais séria, em casa. Até à data contam-se quatro álbuns nunca editados (WARning, Once Upon a Forest, Colder Hands, Eu Já Cá Estive Antes) e um álbum (You Are The Harvest) editado e disponibilizado gratuitamente pela netlabel MIMI Records, em 2012, e licenciado pela Creative Commons. "The Waiting", é o mais recente capítulo da "aventura" Yesterday, "um fim de tarde num campo povoado de ruínas, no qual somos invadidos pelo sentimento mais pacífico e eterno".

Portugal Rebelde - “The Waiting”, como os discos anteriores, é o resultado de um longo processo, no qual as músicas nascem, crescem e são depois registadas na altura em que se destacam como unidades. É esta a “fórmula” que não abdica para ver nascer os discos de Yesterday?

Pedro Augusto - Não se trata bem de “não abdicar”, é mais como um chamamento ao qual não consigo resistir. É estar sujeito ao ritmo do corpo, às suas velocidades de adaptação e crescimento e saber respeitar isso, em vez de o forçar, como acontece quando estamos a trabalhar com um orçamento de estúdio. Há coisas que só surgem por acaso, e temos que dar espaço e tempo para que isso aconteça.

PR - De que é que nos falam as canções deste “The Waiting”?

PA - Na verdade não podem querer falar de nada – como a minha intenção com elas fosse comunicar algo. Mas são, isso sim, a expressão de um sentimento muito forte ligado a estar num momento de pausa, de espera, com todos os seus momentos de antecipação, de entusiasmo, mas também, por vezes, de desespero.

PR - Este disco está desde o passado dia 7 de Abril disponível para download gratuito no site http://project-yesterday.bandcamp.com. A música é para si algo de que se gosta muito, e que deve ser partilhada sem qualquer jogo de interesse?

PA - A música, para mim, nem passa por esta partilha. Partilhar música é uma decisão complicada porque, embora ela possa ser vista, e até feita, como uma forma de comunicação, a música não é, na sua essência, um meio / uma “coisa”, que se tenha que rentabilizar. A sua possível rentabilização nada tem a ver com qualidade, entrega, honestidade, etc. A minha decisão de partilhar deve-se, exclusivamente, a entrar um jogo com as pessoas que querem escutar, e ir percebendo, pelo caminho, se há afinidades.

PR - Numa frase apenas como caracterizaria este “The Waiting”?

PA - Um fim de tarde num campo povoado de ruínas, no qual somos invadidos pelo sentimento mais pacífico e eterno, até o tempo continuar a correr e a noite invadir tudo.

PR - A imagem deste disco é de alguém sozinho em casa que, de repente, canta como excesso de felicidade ou para espantar os seus demónios?

PA - Esta não é a imagem apenas deste disco, mas de todos os meus discos. Todos eles nascem de uma espécie de isolamento – que é depois, também, o isolamento do período de gravações. É o isolamento do nascer das músicas e dos sons que tocam na minha mente nos dias de maior felicidade e nos dias mais introspectivos. Este álbum alimentou-se, como talvez nenhum outro, destes opostos. São os sons que nascem espontaneamente em nós – porque são uma expressão natural do momento em que surgem – que nada têm a ver com um esforço de composição em banda ou em estúdio. A maior parte deles surge no decorrer das tarefas diárias e não quando me sento para tocar.

PR - Para terminar, por onde passa o futuro próximo de Yesterday?

PA - Um futuro despreocupado. Quando lançamos algo de forma gratuita e desinteressada, não temos, nem podemos ter, expectativas. Vão haver pequenos concertos intimistas de apresentação do álbum; continuarei a usar o vídeo como forma de expressão dos temas e começarei a trabalhar em músicas que já trago comigo, para, talvez, um próximo capítulo.

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